Descrição

Para sequência a esse breve resumo histórico, destacaremos três tipos de samba, pela constatação de que, apesar da variabilidade de estilos de se fazer o samba, estes se tornaram mais distantes dos meios de circulação de massa e do mercado global de música. Além disso, eles representam relações de sociabilidade e musicalidade desenvolvidas em contextos específicos e que se tornaram menos expressivas na prática atual.
O Partido Alto resulta de práticas coreográficas e musicais do Rio de Janeiro no início do século XX. Suas principais características são, basicamente, uma estrutura de duas partes. A primeira, o refrão, cantado coletivamente e que sempre se repete; a segunda, representando sua maior característica, são seus versos improvisados: respeitando a melodia e o ritmo, se efetua uma competição repleta de piadas, provocações e muita criatividade. Com o mercado fonográfico, as gravações da segunda parte tornaram-se mais rígidas, retirando o ambiente de criação compartilhada e improvisada. Em relação à estética, seus instrumentos prevalecentes são:
Vilma (Porta bandeira) e Benício (Mestre-sala) em desfile da Portela / Foto: Reprodução - Jornal do Brasil
Portanto, ao decorrer da história, vimos uma parte da nossa cultura sendo negligenciada pelo preconceito racial e, quando legitimada, sendo influenciada pelo mercado fonográfico. Entretanto, ela acabou se tornando um elemento essencial para o entendimento da identidade brasileira. Como foi discorrido no texto, processos como a turistificação do carnaval, influenciando o samba-enredo, a indústria cultural intervindo nos padrões do samba e a memória dos mais velhos sendo preservada de forma precária, enfraqueceram a tradição do samba. Além destes fatos, o registro do Samba de Roda do Recôncavo Baiano em 2005 como Patrimônio Imaterial da Humanidade chamaram a atenção das comunidades do samba e estas se viram motivadas a utilizar as políticas públicas do patrimônio, como forma de fortalecer outra vez as principais linhas do Samba do Rio de Janeiro: o Samba de Terreiro, o Samba-enredo e o Partido-alto. Em 2007, através de uma união de agentes e da comunidade carioca que representavam a história do samba para a elaboração do Dossiê Matrizes do Samba do Rio de Janeiro, conseguiram inscrever o samba carioca no Livro de Registro de Formas de Expressão como Patrimônio Cultural Brasileiro.
Detentores
Centro Cultural Cartola.
Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ).
Museu da Imagem e do Som (MIS).
Instituto do Carnaval da Universidade Estácio de Sá.
Liga Independente das Escolas de Samba do Rio.
O Samba do Rio de Janeiro, mais popularmente conhecido como samba carioca, o samba do morro ou o samba urbano, tão adorado símbolo nacional, teve como marco local a Pedra do Sal, no morro da Conceição, no início do século XX. Foi alvo de discriminação e perseguição nas primeiras décadas de seu surgimento e se apresenta, desde sua origem, como um elemento de expressão da identidade cultural da população negra (Centro Cultural Cartola, et al, 2007). Inscritas no Livro de Registro de Formas de Expressão, em 2007, a proposta de registro das Matrizes do Samba do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Brasileiro foi idealizada pela sambista Leci Brandão e desenvolvida pelo Centro Cultural Cartola, com apoio da Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ), do Museu da Imagem e do Som (MIS), do Instituto do Carnaval da Universidade Estácio de Sá e da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio.
Sediada inicialmente nas casas coletivas alugadas por africanos e baianos nas zonas portuárias no bairro da Saúde, na ladeira da Pedra do Sal, a população negra após a abolição desenvolve neste espaço uma forte cultura, chamada também de diáspora baiana – um contingente de negros da Bahia em busca de maiores oportunidades na capital. Surge na mesma região, por volta de 1886, a casa de candomblé, fundada por Bamboxê, que, ao regressar à Bahia, a entrega para João Abalá “de Omulu” seguir a tradição. Foi nesse terreiro que a baiana Tia Ciata (foto ao lado - Jornal do Brasil), uma das mais influentes participantes da formação do samba, se tornaria Mãe Pequena (Iyá Kekerê).
Na primeira década do século XX, o prefeito Pereira Passos decide remover da cidade, de forma desumana, tudo o que na época representava o “atraso e a pobreza”. Logo essa população marginalizada se estabelece em uma região chamada “Cidade Nova” e, na casa da Tia Ciata, na Praça Onze – chamada de capital da Pequena África –, forma-se um polo expressivo de resistência cultural que no decorrer do tempo, por sua popularidade, vai atraindo a atenção da sociedade. Compositores como Pixinguinha, Hilário Jovino Ferreira, Donga, Sinhô, João da Baiana frequentavam sua casa agitando festas e saraus. Ali se desenvolveram as principais matrizes do samba carioca, representadas na pesquisa Dossiê Matrizes do Samba do Rio de Janeiro pelo Samba-enredo, Samba de Terreiro e Partido Alto. (Centro Cultural Cartola, e tal, 2007)
Na descrição do Dossiê, afirma-se que a palavra samba possui diversas referencias de origem e significado. O legado de danças em roda caracterizadas pela umbigada é de origem banto, como boa parte da cultura brasileira. A palavra, em alguns dicionários e textos – por exemplo, O cortiço, de Aluízio de Azevedo –, remetia sempre a uma “espécie de dança popular”. Ademais, na língua tchokwe, de Angola, a palavra pode ser usada na acepção de brincar ou divertir e, em quimbundo, como agradar ou encantar.
Na primeira década do século XX, o prefeito Pereira Passos decide remover da cidade, de forma desumana, tudo o que na época representava o “atraso e a pobreza”. Logo essa população marginalizada se estabelece em uma região chamada “Cidade Nova” e, na casa da Tia Ciata, na Praça Onze – chamada de capital da Pequena África –, forma-se um polo expressivo de resistência cultural que no decorrer do tempo, por sua popularidade, vai atraindo a atenção da sociedade. Compositores como Pixinguinha, Hilário Jovino Ferreira, Donga, Sinhô, João da Baiana frequentavam sua casa agitando festas e saraus. Ali se desenvolveram as principais matrizes do samba carioca, representadas na pesquisa Dossiê Matrizes do Samba do Rio de Janeiro pelo Samba-enredo, Samba de Terreiro e Partido Alto. (Centro Cultural Cartola, e tal, 2007)
Na descrição do Dossiê, afirma-se que a palavra samba possui diversas referencias de origem e significado. O legado de danças em roda caracterizadas pela umbigada é de origem banto, como boa parte da cultura brasileira. A palavra, em alguns dicionários e textos – por exemplo, O cortiço, de Aluízio de Azevedo –, remetia sempre a uma “espécie de dança popular”. Ademais, na língua tchokwe, de Angola, a palavra pode ser usada na acepção de brincar ou divertir e, em quimbundo, como agradar ou encantar.
Em meados de 1880, tia Bebiana – baiana, filha-de-santo de João Abalá – faz sua festa da lapinha no Largo de São Domingos, tornando-se lugar de desfiles pastoris e de ranchos carnavalescos onde Hilário Jovino Ferreira, pernambucano criado em Salvador no meio Nagô, um dos frequentadores da casa de Tia Ciata, em 1893, traz consigo o enredo, o porta-bandeira e o mestre-sala e
“funda o Rei de Ouros com um chá dançante em sua casa, o licencia na polícia, e, numa decisão que muda a história musical da cidade, decide realizar seu desfile no carnaval, em vez de sair no dia de Reis, como faziam os outros ranchos, em busca de maior liberdade de movimento e expressão.”(Centro Cultural Cartola, 2007:17)A palavra “escola” refletia as responsabilidades dessas primeiras comunidades de samba. Como atividade de grande relevância para a transmissão de conhecimentos, era ali que muitos garotos se desenvolviam, em conjunto com um senso de coletividade, culturalmente: “Eu não tenho a escola só como entretenimento. Tenho a escola como uma cultura, como um estudo.” (Djalma Sabiá) (Ibidem, p. 115). Portanto, os compositores identificavam no samba um ato pedagógico, uma filosofia da prática do cotidiano. O próprio Ismael Silva afirmava serem os mestres do samba professores de “aulas teóricas e práticas”. (ibidem, p.19). Nos primeiros desfiles, os favelados formavam as principais escolas em Mangueira (Estação primeira), Salgueiro (Azul e Branco e Depois Eu Digo), Borel (Unidos da Tijuca), Matriz (Aventureiros da Matriz), Serrinha (Prazer da Serrinha), São Carlos (Para o Ano Sai Melhor), Tuiuti (Mocidade Louca de São Cristóvão) e também Portela (chamada de Vai como Pode) do grande compositor Oswaldo Cruz.
O primeiro samba a ser gravado e fazer sucesso é Pelo telefone, em 1917, com uma mescla de Lundu, Maxixe e samba, criado no rancho Rosa Branca na casa da Tia Ciata e registrado por Donga e o jornalista Mauro de Almeida. Apesar de ser registrado por apenas duas pessoas, alguns dos sambas daquela época eram compostos coletivamente, de forma que se discutiu sobre a composição de Pelo telefone. Existe uma polêmica sobre essa canção, onde Tia Ciata, João da Mata e Germano reclamam sua autoria numa nota do Jornal do Brasil no mesmo ano. (GOMES, 2010)
O Partido Alto resulta de práticas coreográficas e musicais do Rio de Janeiro no início do século XX. Suas principais características são, basicamente, uma estrutura de duas partes. A primeira, o refrão, cantado coletivamente e que sempre se repete; a segunda, representando sua maior característica, são seus versos improvisados: respeitando a melodia e o ritmo, se efetua uma competição repleta de piadas, provocações e muita criatividade. Com o mercado fonográfico, as gravações da segunda parte tornaram-se mais rígidas, retirando o ambiente de criação compartilhada e improvisada. Em relação à estética, seus instrumentos prevalecentes são:
“percussão (pandeiro, surdo, tamborim, cuíca, repique, reco-reco, ganzá, etc.) e cordas dedilhadas (cavaquinho, banjo, violão de 6 e de 7 cordas), aos quais pode ser acrescida uma infinidade de instrumentos solistas ou acompanhadores (metais, madeiras, teclados, cordas, foles)” (Centro Cultural Cartola, 2007, p.24)
O Samba de Terreiro, distintamente, é definido principalmente pelo contexto onde se apresenta e não apenas por características musicais e poéticas. É uma prática sociomusical que exprime ideias e histórias do lado de dentro da vida comunitária dos sambistas de determinada escola, sendo apresentado nos terreiros. Às vezes, pode assemelhar-se ao Partido Alto, que apresenta uma performance, citada acima, de refrão e improviso. Um exemplo deste gênero é o samba Serra dos meus sonhos dourados, de Carlinhos Bem-te-vi (1940). Pode também se aproximar do Samba-enredo, quando utiliza o canto coletivo em todos os versos. Neste caso, a temática preferida é a exaltação da identidade coletiva, as glórias e feitos da comunidade, seus símbolos e personagens, como na criação de Cartola intitulada Velho Estácio.
Para o terceiro estilo, o Samba-enredo, com mais elementos que os anteriores, precisamos particularizar – em conjunto com apenas alguns exemplos musicais – os sambas cantados nos primeiros desfiles carnavalescos. Nos anos 30, na maioria dos casos, este samba ainda era muito similar ao samba de terreiro, não tinha relação com o enredo e ainda continha um versador solista, que improvisava na segunda parte da música. Um exemplo é o que ocorre em Chega de demanda, de Cartola, do carnaval de 1929, antes mesmo da criação da Mangueira (CABRAL, 1996); e nos sambas cantados a partir de 1940, influenciados pelos regulamentos elaborados depois do desfile de 1934, o enredo na letra do samba passa ser quesito de julgamento na competição. Logo depois, devido a um processo paulatino, em 1946 os versos improvisados são proibidos do desfile – como exemplo, apesar de ser de 1936: Não quero mais amar ninguém, de Cartola e Carlos Cachaça. No ponto de vista da estrutura musical, os 16 compassos repetidos com canto coletivo e 16 sem repetir com o solista (molde “clássico” herdado dos bambas do Estácio de Sá) utilizados nos primeiros desfiles carnavalescos, foram se alterando para algo mais coletivo:
“A parte do solista diminui, tornando-se o samba do desfile cada vez mais coletivo, na mesma medida em que todo o desfile se torna um empreendimento coletivo, ajustado e cronometrado em detalhes cada vez mais mínimos (a descrição de Maria Laura Viveiros de Castro em Carnaval carioca, dos bastidores ao desfile é eloquente)”. (Centro Cultural Cartola, 2007, p. 38)
Através de todos esses processos citados, entre as décadas de 30 e 50, o Samba-enredo – com suas baterias de escola de samba e a intenção de narrar o enredo – passa a ser caracterizado por sua função e importância na competição nos desfiles das escolas de samba. Em um momento mais recente, a partir da década de 1970, ocorre uma intensa transformação no contexto do desfile carnavalesco carioca. Esses elementos serão mais bem explicados no verbete Samba-enredo, pela extensão e complexidade do assunto carecer de um espaço maior para sua descrição.
Proteção
A importância de se preservar as matrizes do samba do rio de janeiro se apresentou devido às mudanças estruturais dessas práticas, inevitáveis em razão da sua multiplicidade e complexidade, constantemente mediadas pela indústria cultural e pelo turismo. Sendo assim, sua importância como elemento da identidade da vida das pessoas – não só de uma localidade, mas do país –, levou a sambista Leci Brandão, associada ao Centro Cultural Cartola, a idealizar e promover formas de proteger as práticas “raízes” do samba e, consequentemente, a propor o registro como patrimônio cultural brasileiro.
O mercado fonográfico, a indústria do espetáculo e a dificuldade de transmissão da memória e essência da Velha Guarda para as recentes produções do gênero, extirparam os tão valorizados fundamentos dessas três matrizes do samba. Além disso, a riqueza poética, melódica e rítmica, inexorável às expressões culturais em geral, integralizando os aspectos religiosos afro-brasileiros, festas em terreiros, culinária (feijoadas), rodas de samba e a prática de um “um bonito modo de viver” – como diria o mestre Nelson Sargento –, refletem uma parte indispensável da história do Rio de Janeiro e do Brasil. Nessa acepção, sambistas “da antiga”, fonte de recordações valiosíssimas, reconhecem o enfraquecimento dessas matrizes e declaram a necessidade de valorização. Muitos deles nunca gravaram, apesar da notoriedade pessoal na comunidade e do saber tradicional das matrizes enfraquecidas.
A importância de se preservar as matrizes do samba do rio de janeiro se apresentou devido às mudanças estruturais dessas práticas, inevitáveis em razão da sua multiplicidade e complexidade, constantemente mediadas pela indústria cultural e pelo turismo. Sendo assim, sua importância como elemento da identidade da vida das pessoas – não só de uma localidade, mas do país –, levou a sambista Leci Brandão, associada ao Centro Cultural Cartola, a idealizar e promover formas de proteger as práticas “raízes” do samba e, consequentemente, a propor o registro como patrimônio cultural brasileiro.
O mercado fonográfico, a indústria do espetáculo e a dificuldade de transmissão da memória e essência da Velha Guarda para as recentes produções do gênero, extirparam os tão valorizados fundamentos dessas três matrizes do samba. Além disso, a riqueza poética, melódica e rítmica, inexorável às expressões culturais em geral, integralizando os aspectos religiosos afro-brasileiros, festas em terreiros, culinária (feijoadas), rodas de samba e a prática de um “um bonito modo de viver” – como diria o mestre Nelson Sargento –, refletem uma parte indispensável da história do Rio de Janeiro e do Brasil. Nessa acepção, sambistas “da antiga”, fonte de recordações valiosíssimas, reconhecem o enfraquecimento dessas matrizes e declaram a necessidade de valorização. Muitos deles nunca gravaram, apesar da notoriedade pessoal na comunidade e do saber tradicional das matrizes enfraquecidas.
Meus avós do interior tocavam lundu e jongo, minha tia mostrava as músicas e danças, em Paraíba do Sul. O que eu tenho são coisas deles. Está em minha mente. (Wilson Moreira) (...) Eu era vizinho da casa do Paulo da Portela. Então, eu cheguei menino ainda.... Eu já gostava de fazer meus sambinhas... Já veio no sangue... Aí eu ia lá no ensaio da Portela e ficava vendo, de longe assim, porque eu tinha medo de entrar naquela turma ainda. E aí, com o tempo, eu fui ensaiando, fui aprendendo, fazendo samba direito, até fazer um samba para ela. E fui feliz de o meu samba ser cantado pelas pastoras da Portela. (Monarco) (Centro Cultural Cartola, p.115, 2007)Os planos de salvaguarda elaborados pelo Centro Cultural Cartola, resumidamente, são: ações que fomentem a pesquisa e documentação (formações de pesquisadores da comunidade; pesquisa de campo e histórica, etc); a transmissão do saber (valorização de espaços do samba); e a produção, registro e apoio às organizações, principalmente ligado a essas matrizes, que muitas vezes não são de carácter comercial. Após o registro, essas ações começaram a se efetivar realmente em 2010. Foi implantado, em parceria com o Centro Cultural Cartola, o Pontão de Cultura Memória do Samba Carioca, com o intuito de constituir um acervo de pesquisa através de obras fonográficas, dar cursos de capacitação para gestores, promover um encontro das Velhas Guardas das Escolas e executar a gravação de depoimentos das principais personalidades do samba do Rio de Janeiro – com produção de um DVD. Apesar das ações estarem ainda em andamento, foi possível perceber o “samba de raiz” sendo reapropriado pelas rádios comerciais, “algumas contando com programas inteiramente dedicados ao tema, como o Samba Social Clube, da carioca MPB FM 90.3 MHZ” (MEIRELLES, p.123, 2013).
Portanto, ao decorrer da história, vimos uma parte da nossa cultura sendo negligenciada pelo preconceito racial e, quando legitimada, sendo influenciada pelo mercado fonográfico. Entretanto, ela acabou se tornando um elemento essencial para o entendimento da identidade brasileira. Como foi discorrido no texto, processos como a turistificação do carnaval, influenciando o samba-enredo, a indústria cultural intervindo nos padrões do samba e a memória dos mais velhos sendo preservada de forma precária, enfraqueceram a tradição do samba. Além destes fatos, o registro do Samba de Roda do Recôncavo Baiano em 2005 como Patrimônio Imaterial da Humanidade chamaram a atenção das comunidades do samba e estas se viram motivadas a utilizar as políticas públicas do patrimônio, como forma de fortalecer outra vez as principais linhas do Samba do Rio de Janeiro: o Samba de Terreiro, o Samba-enredo e o Partido-alto. Em 2007, através de uma união de agentes e da comunidade carioca que representavam a história do samba para a elaboração do Dossiê Matrizes do Samba do Rio de Janeiro, conseguiram inscrever o samba carioca no Livro de Registro de Formas de Expressão como Patrimônio Cultural Brasileiro.
Detentores
Centro Cultural Cartola.
Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ).
Museu da Imagem e do Som (MIS).
Instituto do Carnaval da Universidade Estácio de Sá.
Liga Independente das Escolas de Samba do Rio.
Glossário
Banto: A tradição dos povos banto deu, no Brasil, origem a toda uma família de danças aparentadas, que vai do carimbó paraense e do tambor-de-crioula do Maranhão ‘passando pelo coco do litoral nordestino e pelos sambas do Recôncavo e do médio São Francisco, na Bahia’ até o jongo ou caxambu no Sudeste brasileiro, notadamente no Vale do Paraíba. Onde houve negro banto, lá estão as danças de roda, com ou sem umbigada.” (Pereira, 2007, p. 14)
Diáspora: o termo pode ser entendido como “a dispersão mundial dos povos africanos e de seus descendentes como consequência da escravidão e outros processos de imigração” (SINGLETON & SOUZA, 2009: 449). Devido ao sentimento de não-pertencimento, manifestações do candomblé em terreiros e as fortes expressões afro-brasileiras (música, dança, culinária etc.) em uma determinada localidade pode representar a “reconstrução temporal de um microcosmos africano” para tornar presente o passado. (PEREIRA, 2015)
Enredo: é a característica principal no samba-enredo. Ele articula um determinado tema à produção da coreografia, à confecção de fantasias e a letra da música. Pela tamanha variabilidade de técnicas e códigos de comportamentos para cada função nos enredos dos ranchos carnavalescos, constituíram-se as famosas “escolas” para integralizar o processo de aprendizagem coletiva e organizar as apresentações dos cortejos no carnaval (GONÇALVES, 2003).
Lundu: é considerado o primeiro ritmo musical afro-brasileiro. José Ramos Tinhorão, pesquisador e crítico musical, afirma que o Lundu tem sua origem na palavra calundu, no qual se constitui um culto africano praticado no Brasil. De acordo com Tinhorão, o Lundu apresenta elementos da umbigada africana e do fandango europeu. http://www.afreaka.com.br/notas/sensualidade-e-graca-lundu/
Maxixe: ritmo que surgiu em meados do século XIX na sociedade carioca através de bailes populares e seus elementos derivam de danças europeias como a polca e a habanera e ritmos afro-brasileiros, tais como o lundu e o batuque. (PEREIRA, 2007)
Pastoril: representa as festas natalinas do nordeste, especialmente em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. Teve grande influência nos ranchos carnavalescos do Rio de Janeiro. (VALENTE, 2009)
Ranchos: Referente ao texto, os elementos fundamentais do rancho carioca derivam dos ranchos que saiam no Dia de Reis, que “Mário de Andrade, em sua definição dos ranchos de Reis, os descrevia como estruturalmente idênticos ao reisado, como ‘qualquer agrupamento de cantores em cortejo, nas festas tradicionais’” (GONÇALVES, 2003) – com alegorias, roupagens extravagantes, luzes e a musicalidade . Já os ranchos cariocas, tiveram como “inventor” o Hilário Jovino, que transferiu o cortejo do rancho do Dia de Reis para o Carnaval e propondo também o mestre-sala e a porta bandeira.
Versador solista: o versador solista era o responsável pela performance de cantar em improviso nas rodas de samba. Apesar de existir nos primeiros desfiles de samba-enredo, o improvisador sempre foi característico do Partido-alto e improvisava em disputa com outros versadores, criando soluções poéticas convincentes respeitando o ritmo, a melodia e o tema da musica a ser tocada. Ex: Parte do Documentário Matrizes do Samba do Rio de Janeiro do Iphan https://www.youtube.com/watch?v=0S9xgFa2I6Q
Proteção oficial
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Em 20 de novembro de 2007, As Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo foram registradas como bem cultural de natureza imaterial, na categoria Formas de Expressão pelo processo nº 01450.011404/2004- 25.
Banto: A tradição dos povos banto deu, no Brasil, origem a toda uma família de danças aparentadas, que vai do carimbó paraense e do tambor-de-crioula do Maranhão ‘passando pelo coco do litoral nordestino e pelos sambas do Recôncavo e do médio São Francisco, na Bahia’ até o jongo ou caxambu no Sudeste brasileiro, notadamente no Vale do Paraíba. Onde houve negro banto, lá estão as danças de roda, com ou sem umbigada.” (Pereira, 2007, p. 14)
Diáspora: o termo pode ser entendido como “a dispersão mundial dos povos africanos e de seus descendentes como consequência da escravidão e outros processos de imigração” (SINGLETON & SOUZA, 2009: 449). Devido ao sentimento de não-pertencimento, manifestações do candomblé em terreiros e as fortes expressões afro-brasileiras (música, dança, culinária etc.) em uma determinada localidade pode representar a “reconstrução temporal de um microcosmos africano” para tornar presente o passado. (PEREIRA, 2015)
Enredo: é a característica principal no samba-enredo. Ele articula um determinado tema à produção da coreografia, à confecção de fantasias e a letra da música. Pela tamanha variabilidade de técnicas e códigos de comportamentos para cada função nos enredos dos ranchos carnavalescos, constituíram-se as famosas “escolas” para integralizar o processo de aprendizagem coletiva e organizar as apresentações dos cortejos no carnaval (GONÇALVES, 2003).
Lundu: é considerado o primeiro ritmo musical afro-brasileiro. José Ramos Tinhorão, pesquisador e crítico musical, afirma que o Lundu tem sua origem na palavra calundu, no qual se constitui um culto africano praticado no Brasil. De acordo com Tinhorão, o Lundu apresenta elementos da umbigada africana e do fandango europeu. http://www.afreaka.com.br/notas/sensualidade-e-graca-lundu/
Maxixe: ritmo que surgiu em meados do século XIX na sociedade carioca através de bailes populares e seus elementos derivam de danças europeias como a polca e a habanera e ritmos afro-brasileiros, tais como o lundu e o batuque. (PEREIRA, 2007)
Pastoril: representa as festas natalinas do nordeste, especialmente em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. Teve grande influência nos ranchos carnavalescos do Rio de Janeiro. (VALENTE, 2009)
Ranchos: Referente ao texto, os elementos fundamentais do rancho carioca derivam dos ranchos que saiam no Dia de Reis, que “Mário de Andrade, em sua definição dos ranchos de Reis, os descrevia como estruturalmente idênticos ao reisado, como ‘qualquer agrupamento de cantores em cortejo, nas festas tradicionais’” (GONÇALVES, 2003) – com alegorias, roupagens extravagantes, luzes e a musicalidade . Já os ranchos cariocas, tiveram como “inventor” o Hilário Jovino, que transferiu o cortejo do rancho do Dia de Reis para o Carnaval e propondo também o mestre-sala e a porta bandeira.
Versador solista: o versador solista era o responsável pela performance de cantar em improviso nas rodas de samba. Apesar de existir nos primeiros desfiles de samba-enredo, o improvisador sempre foi característico do Partido-alto e improvisava em disputa com outros versadores, criando soluções poéticas convincentes respeitando o ritmo, a melodia e o tema da musica a ser tocada. Ex: Parte do Documentário Matrizes do Samba do Rio de Janeiro do Iphan https://www.youtube.com/watch?v=0S9xgFa2I6Q
Proteção oficial
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Em 20 de novembro de 2007, As Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo foram registradas como bem cultural de natureza imaterial, na categoria Formas de Expressão pelo processo nº 01450.011404/2004- 25.
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Saiba mais
Há uma infinidade de produção audiovisual sobre o tema. Para maior uma compreensão da história do samba, sugerimos alguns filmes e documentários.
As matrizes do Samba do Rio de Janeiro (2007) – Documentário produzido pelo Iphan para o registro do samba no rio de janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo. O registro deste bem cultural ocorreu em 20/11/2007.
Breve História do Samba – Documentário realizado no curso de Comunicação Social: Radialismo da UNESP de Bauru-SP por Andrey Sanches e Thais Oliveira. Com depoimentos de Lecy Brandão, Paulinho da Viola, Monarco, Donga, Sérgio Cabral, Elton Medeiros, entre outros bambas.
Eu sou o povo! (2007) – de Luiz Antonio Pilar. Documentário que pôs em foco a vida e obra de Candeia, e a criação do Grêmio Recreativo Arte Negra e Escola de Samba Quilombo.
Cartola – Música para os olhos (2006) – de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. Conta a história de um dos maiores expoentes do samba carioca.
Pesquisa e texto
Há uma infinidade de produção audiovisual sobre o tema. Para maior uma compreensão da história do samba, sugerimos alguns filmes e documentários.
As matrizes do Samba do Rio de Janeiro (2007) – Documentário produzido pelo Iphan para o registro do samba no rio de janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo. O registro deste bem cultural ocorreu em 20/11/2007.
Breve História do Samba – Documentário realizado no curso de Comunicação Social: Radialismo da UNESP de Bauru-SP por Andrey Sanches e Thais Oliveira. Com depoimentos de Lecy Brandão, Paulinho da Viola, Monarco, Donga, Sérgio Cabral, Elton Medeiros, entre outros bambas.
Eu sou o povo! (2007) – de Luiz Antonio Pilar. Documentário que pôs em foco a vida e obra de Candeia, e a criação do Grêmio Recreativo Arte Negra e Escola de Samba Quilombo.
Cartola – Música para os olhos (2006) – de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. Conta a história de um dos maiores expoentes do samba carioca.
Pesquisa e texto
Pedro Moisés Andrade dos Santos (RA: 223446)
Curso de Graduação em Ciências Sociais, IFCH – Unicamp